Altas penedias, solo granítico, vegetação arbustiva, vida dura e difícil, foram os grandes moldadores da bela raça «Cão Serra da Estrela».
As terras que hoje formam o Parque Natural da Serra da Estrela foram o seu solar – foi aqui que ela se fixou e adaptou.
Animais de grande beleza, de avantajada corpulência e de nobres sentimentos, foram companheiros do homem desta região, através de milénios, no seu labor quotidiano.
Desde sempre, estes garbosos cães, as mais das vezes sustentados parcamente, tiveram a incumbência de zelar pela segurança de pastores e rebanhos, ante o ataque das feras que infestavam estas paragens.
Nas épocas de invernia, em que homens e rebanhos eram obrigados a abandonar a serra e a deslocar-se, nas suas rotas de transumância, em busca de pastos viçosos, percorrendo por vezes quilómetros infinitos, lá iam os fiéis cães a seu lado, cuidando para que nada de mal lhes acontecesse.
Assim foi durante séculos e séculos. Entretanto, a era da industrialização chegou e gerou grandes alterações comportamentais no Homem e também aqui se reflectiu.
Os rebanhos foram diminuindo, as feras desaparecendo e os cães desta raça, por falta de função, estariam condenados a perder a sua pureza.
Os mecanismos de selecção natural, que até aí tinham funcionado, deixaram de existir e não fora o trabalho aturado de preservação desta raça canina, por parte de alguns criadores esforçados e interessados, ela ter-se-ia diluído e desaparecido.
Felizmente que tal não aconteceu e hoje podemos continuar a ver lindos exemplares desta valiosa raça autóctone. A sua docilidade para com os donos e a sua agressividade controlada para com os estranhos são sobejamente conhecidas, assim como a estreita amizade que estabelecem com as crianças.
Da sua valentia, são testemunhas as lutas que eram capazes de travar com alcateias de lobos para salvar o seu rebanho. Elas foram tantas, através dos tempos, que, hoje, fazem parte da cultura tradicional portuguesa.
Qual de nós, portugueses, já as não ouviu contar? Existem dois tipos de pelagem no «Cão Serra da Estrela» - o pêlo curto e o pêlo comprido. Constituem duas variedades distintas que não se podem cruzar entre si, pois isso traria a degenerescência de ambas.
É uma raça de grande estatura em que os machos terão de ter 65 a 72 cm de altura e as fêmeas 62 a 68 cm. O seu peso é de 40 a 50 Kg para os cães e 30 a 40 kg para as cadelas.
São animais bem musculados e de elegante e sólido esqueleto, o que lhes confere andamentos fáceis e vivos. Quando pequeninos, os de pêlo comprido, parecem autênticas bolas peludas que não nos cansamos de acariciar. E que olhinhos eles nos fazem!
O «Cão Serra da Estrela» foi como que um elemento vivo adoçante da agreste e altiva paisagem rochosa da serra – era nele que o pastor confiava, era com ele que o pastor falava.
Também, nos nossos dias, longe do seu «habitat» original, pode ser um agente neutralizante da vida nervosa e agitada que se leva. Possuir-se um ou mais cães desta raça, calma e segura, e com eles conviver-se pode ser uma ajuda, e grande, para nos defendermos dos efeitos nefastos do «stress» contemporâneo, pela alegria e paz de espírito que eles nos trazem.
As suas cores são variadas permitindo, assim, agradar a quase todos os gostos. Eles podem ser amarelos, fulvos ou lobeiros, nas suas diversas tonalidades. Se estiver para adquirir um cão, não se esqueça desta raça.
O «Cão Serra da Estrela» é daqueles em que se pode ter confiança e que, além disso, é capaz de proporcionar momentos de prazer, a si e aos seus, protegendo-os simultaneamente.
Se o escolher, será mais uma pessoa a fazer com que esta magnífica raça não se extinga e a preservar, desta forma, o Património Nacional.
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